ENTREVISTA COM MAESTRO JOÃO CARLOS MARTINS
Empresas do Vale julho 16, 2019 Nenhum comentário
ENTREVISTA COM MAESTRO JOÃO CARLOS MARTINS
Matéria realizada na edição nº 48, periodicidade: outubro / novembro / 2012
Pelo: jornalista José Carlos Reis de Souza
Diretor, editor e jornalista da Revista Empresas do Vale – Negócios & Turismo.
Mais uma vez tivemos a oportunidade de estar junto com o maestro João Carlos Martins e não perdemos a ocasião para dialogar um pouco mais a respeito da sua vida pessoal e profissional, aprendendo um pouco sobre superação. O maestro João Carlos Martins, com 16 anos já tocava no Teatro Municipal, aos 22 anos já era astro da música clássica em Nova York. Porém. Aos 26 anos participando de um treino junto com os jogadores da Portuguesa em Nova York, sofreu um acidente que perfurou o nervo ulnar (que é uma ramificação do plexo braquial, mais exatamente do fascículo medial). Ele pode ser apalpado na parte medial do cotovelo, entre o epicôndilo medial do úmero e o olécrano (pertencente à ulna). A inervação dele é responsável por metade do 4º dedo e todo o 5º dedo, além do músculo flexor ulnar do carpo e parte medial dos músculos flexores profundos dos dedos. Após este acidente, perdeu a mobilidade da mão direita, mas conseguiu retornar a tocar. Depois teve “LER – Lesão por Esforço Repetitivo”, e conseguiu retornar. A seguir, após um assalto na Bulgária, sofreu uma lesão cerebral, permanecendo durante oito meses no Jackson Memorial Hospital em Miami. Novamente conseguiu voltar, e finalmente os médicos tiveram que seccionar o nervo da mão direita. Foi quando pela primeira vez começou a tocar com a mão esquerda sozinha. Correu a Europa e a Ásia fazendo quase 100 concertos. Em 2002 ou 2003, perdeu o movimento da mão esquerda, devido a um tumor. Foi quando teve um sonho com o maestro Eleazar de Carvalho, e no dia seguinte às 07h00min horas da manhã foi tomar a sua primeira aula de regência com o maestro Júlio Medalha e desde então, mais de 100 concertos com a Orquestra Bachiana. O maestro João Carlos Martins nunca perdeu o sonho de pelo menos com a mão esquerda voltar a tocar piano. Depois de enfrentar diversas cirurgias, não pode mais tocar profissionalmente, foi estudar para ser regente. Respeitado no mundo inteiro, inclusive, tem dois documentários, um deles de duas horas sobre sua vida, feito na Alemanha. Nas grandes ou pequenas casas de discos e CDs, sempre tem a sua obra. E você, que reclama por qualquer problema na vida, pense um pouco mais, pense em João Carlos Martins. No dia 16/04/12, o maestro enfrentou mais uma cirurgia com o neurocirurgião Dr. Paulo Niemeyer Filho, que o ajudou a ter de volta os movimentos do braço e de uma das mãos, perdidos por conta de acidentes.
ENTREVISTA
V. – É uma satisfação podermos voltamos a nos encontrar, e gostaria de saber como foi que você decidiu fazer mais esta cirurgia?
Maestro – Foi durante uma apresentação de uma cirurgia do Dr. Paulo Niemeyer Filho no programa Fantástico. No dia seguinte liguei para ele e solicitei que ele me examinasse. Ele pediu para que eu fizesse todos os exames e finalmente foi feita a cirurgia com muito sucesso.
V. – Como foi a cirurgia?
Maestro – Foram 09h30min de cirurgia e no final consegui abrir a mão esquerda. Durante a cirurgia você fica acordado e, o Dr. Paulo Niemeyer Filho vai mostrando quais são as condições que você vai tendo durante a cirurgia, funcionou e foi um sucesso.
V. – Qual é o tempo para a sua reabilitação
Maestro – É uma caixinha de surpresa, eu estou sendo monitorado através dos chips implantados no meu peito. Tenho que fortalecer toda a musculatura, porque, desde 2002, em Pequim, meu último concerto, eu nunca mais abri a mão e não toco profissionalmente com a mão esquerda. Então é um trabalho, que cientificamente, vai tentar encontrar uma solução, porque não é só tocar durante dois minutos, é tocar um conserto inteiro com a mão esquerda. A primeira meta, que era o objetivo da operação, eu consegui, porque já estava regendo com o braço reduzido, vindo contra o próprio peito e, agora consigo abrir totalmente o braço. A primeira meta foi comprida, a segunda é um sonho meu. Estou começando um aprendizado novamente, a promessa do Dr. Paulo Niemeyer Filho (neurocirurgião), não foi para eu a tocar piano, e sim para esticar o braço e segurar uma batuta. Mais ai, quando eu percebi que durante a operação e consegui abrir a mão, começo sonhar a tocar piano profissionalmente, talvez tenha um ano de trabalho, porque tem cem combinações que podem ser feitas nos chips, um é chip japonês e o outro é americano colocado. Se Deus quiser, eu chego lá.
V. – Como está sendo o seu dia a dia?
Maestro – Eu estudo de manhã, vou para o piano e fico fazendo escala como uma criança de 6 anos. Uma semana após a cirurgia, já estava regendo a 9ª Sinfonia de Beethoven.
V. – Aproveitando o espaço, gostaria de saber, quanto tempo leva o curso completo para ser um maestro?
Maestro – Eu estava com 63 para 64 anos quando pensei: o que é ser maestro, por exemplo; é como aquela pessoa que sabe jogar sinuca e vai ter que jogar golfe, o conceito é o mesmo, a metodologia é diferente. Então a música você tem que ter dentro de si. E foi assim que eu tomei algumas aulas e logo eu tive que tomar a minha forma, sabia que não conseguiria segurar uma batuta, ou virar uma página. Só para acrescentar, há dois anos, tive que decorar mais de 10 mil páginas de música, e consigo reger tudo de cor. Então percebi, teria que criar a minha metodologia, o que me interessava era o som que viria da orquestra. Mas tem muita gente que diz que eu ainda quero tocar piano só para não ficar com a fama de maestro.
V. – Já teve algum caso em que o músico se revoltou contra o maestro durante o concerto?
Maestro – Já teve, no meu caso, o grande segredo do relacionamento entre maestro e os músicos são de muito amor e solidariedade.
V. – O Mauricio de Souza criou um personagem infantil em sua homenagem?
Maestro – Sim, o Mauricio de Souza está lançando mais um personagem na Turma da Mônica, o Maestrinho, chamado Joca, em minha homenagem.
V. – E a sua Fundação como está fluindo com seus futuros músicos?
Maestro – Vai indo espetacularmente bem, hoje estamos educando 2200 crianças, e creio que vamos deixar um grande legado para o nosso país através da Fundação Bachiana, principalmente com a orquestra como modelo a “Orquestra Bachiana Filarmônica SESI-SP”. Hoje, uma das orquestras de ponta na América Latina e, certamente essa orquestra passa ser um exemplo para que a Fundação possa fazer trabalho com crianças que queiram alcançar os seus objetivos.
V. – A música tem o poder de inserir a criança na sociedade?
Maestro – A musica explica que Deus existe e, através da música, hoje já está em países Asiáticos, em primeiro lugar na inclusão social, ultrapassando inclusive o esporte. Porque na música não tem disputa, só tem amor e solidariedade.
V. – Para finalizar gostaríamos de saber sobre o circuito SESI de cultura?
Maestro – O SESI adotou a orquestra e em troca a orquestra faz 20 consertos por ano no interior, sempre com uma receptividade enorme. Em todo o SESI em que a gente chega, ficamos surpresos de ver uma instituição que trata da educação, esporte, saúde, cultura. Mas quando a palavra educação está em primeiro lugar como prioridade, é porque a gente acredita que nós vamos ter um Brasil melhor.
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