Artesão Ditinho Joana
Empresas do Vale fevereiro 16, 2019 Nenhum comentário
DITINHO JOANA
ARTESÃO DE SÃO BENTO DO SAPUCAÍ (SP)
(*) Matéria realizada na edição nº 51 – periodicidade abril/maio/2013
Por: José Carlos Reis de Souza
Diretor, editor e jornalista da Revista Empresas do Vale – Negócios & Turismo.
Benedito da Silva Santos, mais conhecido por “Ditinho Joana”, nascido no dia 12/03/1945 na cidade de São Bento do Sapucaí-SP, ex-lavrador do Alto Vale do Rio Sapucaí Mirim, localizado na Serra da Mantiqueira, habitando no bairro Quilombo, comunidade rural no município paulista de São Bento do Sapucaí. Principiou seu trabalho em madeira no ano de 1974, quando se deparou com uma raiz no formato de: gato; cavalo; girafa ou cachorro, o que não sabia determinar. Foi neste momento que veio a sua mente a pretensão de esculpir a sua primeira peça, um ”padre e um índio” e, com uma foice e um formão começou a executar. Durante o dia trabalhava na roça e à noite trabalhava na escultura à luz de lamparina que sua mãe o ajudava a clarear. Esta peça continua em seu ateliê representando toda a sua carreira. Ditinho Joana passa a ser conhecido após uma reportagem para o jornal a Folha de São Paulo, com o tema “Ditinho Joana e seu trabalho”. Em seguida foi para um programa cultural na Rede Record a convite da apresentadora Sônia Ribeiro. Em 2003 foi convidado para participar do programa Jô Soares, no ano de 2007 ganhou o 3º lugar em uma exposição internacional de artes plásticas no “Artmar”. Foi entrevistado por Antônio Abujamra em “Provocações”, na TV Cultura. Ditinho Joana foi matéria em diversas revistas: Globo Rural (1998), Viver Bem e Casa (2004), Guia Quatro Rodas (2005) e Viagem (2007). Seus filhos, Alexandre Joana e Saulo Joana, seguiram os passos de Ditinho Joana, retratam os personagens do dia a dia e personagens de cotidianos diferentes. As obras de Ditinho Joana, impressionam pela sensibilidade e detalhes. Ainda nos dias de hoje, utiliza as mesmas ferramentas de antes: esculpe suas peças em um único bloco de madeira, sem encaixes ou emendas. Em seus trabalhos o artista utiliza madeira nobre como: jacarandá e a pereira, que ele mesmo adquire e seleciona junto aos fazendeiros da região. Ditinho Joana, utiliza apenas madeira de árvores caídas. Suas obras estão espalhadas em galerias de artes ou coleções articulares pelo Brasil e países como Itália, Alemanha e Suíça. O escultor usa sua habilidade para historiar com muita suscetibilidade à representatividade a comunidade rural brasileira. A cultura regional está presente nas variadas formas de manifestações religiosas, artísticas e culturais. A cidade preserva vários costumes que são passados de geração a geração como festividades, danças folclóricas, artesanato e gastronomia. Por todos os rincões da cidade, encontramos alguém manifestando sua arte no uso da madeira, do barro, da fibra da bananeira, da palha de milho, fios, etc., sempre respeitando a natureza com sustentabilidade.
A equipe da Revista Empresas do Vale/TV Metropolitana foi recebida por Ditinho Joana, mestre do entalhe em madeira em seu ateliê, para saber um pouco de seu trabalho.
ENTREVISTA
E.V. – Gostaria que você descrevesse o início de sua carreira como artesão?
Ditinho – Trabalhando na roça, encontrei uma raiz que tinha a forma de um bicho: parecia ser um gato; cachorro; girafa ou cavalo. Na curiosidade acabei trazendo para casa e tentar definir o que realmente era. Solicitei a minha mãe para ajudar a definir e, ela disse: “a natureza, nunca você pode definir, porque ela é do jeito que ela e, vamos deixar essa raiz de lado do jeito que Deus a fez”. Não conformado, peguei aquela raiz e olhando para ela pensei, poderia fazer o que eu quisesse. Foi aí que eu resolvi a criar a minha primeira escultura, um padre e um índio, que foi esculpido durante a noite com a ajuda da minha mãe que clareava com a luz de lamparina. Este foi o início de meu trabalho como artesão. Trabalhei durante o dia vários anos na roça e a noite esculpia durante três horas, até ficar conhecido. Quando as pessoas começaram a visitar a minha casa, deixei de trabalhar na roça para continuar na escultura.
E.V. – A partir de que idade você começa a trabalhar profissionalmente como artesão, esculpindo em madeira bruta?
Ditinho – Trabalhei na roça dos doze aos vinte e nove anos. Quando achei essa raiz comecei a dedicar-me mais a esculpir madeira, porém, continuei trabalhando na roça. Passado dez anos, deixei definitivamente do trabalho na roça e passei viver das esculturas.
E.V. – O que levou você a esculpir um padre e um índio?
Ditinho – Eu não sei a causa pelo qual eu entalhei o padre e o índio. A razão e conclusão é que eu sou ligado à igreja católica e ensinava catequese, por isso o padre. Outro detalhe é que sou descendente de escravo com indícios de índio. Isso estava dentro de mim, uma parte espiritual.
E.V. – A botinha tornou-se a sua marca registrada de venda, como foi que aconteceu essa estratégia para ficar conhecida?
Ditinho – A botinha tornou-se a marca do meu trabalho quando comecei em 1974, quando entalhei a botinha para retratar o homem do campo, e começou a ser bem aceita pelas pessoas que vinham para conhecer o meu trabalho e, que acabou tornando-se a marca do meu ateliê. A história da botinha é a nossa história, todas as pessoas vão fazer essa caminhada: as pessoas de mais idade, já fizeram essa caminhada e os mais novos também os façam. Então escrevi a história da botinha: “Subi e desci, andei depressa e devagar, cansei e descansei, entristeci e me alegrei, e assim sempre caminhei. Hoje estou gasta e cheia de marcas, mas com certeza valeu a pena”. O artista tem várias maneira de expressar o que tem dentro dele, a de esculpir, escrever, falar e contar histórias.
E.V. – Para finalizar como foi que você conheceu o Dr. Miguel Reale?
Ditinho – Dr. Miguel Reale foi me conhecer em São Bento do Sapucaí, quando chegou a uma lojinha e perguntou a minha pessoa: Moço, você poderia informar onde mora um escultor famoso, ai lhe respondi: “depois que a gente conversar um pouco, eu posso indicar para o senhor”. Perguntei ao Dr. Miguel Reale, como é o nome deste escultor. Neste instante ele respondeu lendo uma reportagem: o nome do escultor é Ditinho Joana. Pois o senhor está falando com o próprio. Ele ficou muito contente, sabendo que São Bento do Sapucaí nasceu tantos ilustres, mas escultor eu era o primeiro. E mais orgulhoso fiquei em saber que o Dr. Miguel Reale tinha nascido em São Bento do Sapucaí. Foi filósofo, jurista, educador, poeta brasileiro e pai do jurista Miguel Reale Junior.
Ateliê Ditinho Joana
Rua Projetada, nº 42
Bairro do Quilombo
São Bento do Sapucaí-SP – CEP 12490-000
Fone: 55(12) 3971-2579
ditinhojoana@hotmail.co
Deixe um comentário
Seu endereço de e-mail não será publicado. campos obrigatórios estão marcados * *