Entrevista Com Elke Maravilha
Empresas do Vale fevereiro 5, 2019 Nenhum comentário
ENTREVISTA COM ELKE MARAVILHA
Matéria realizada em abril/2009
Por: José Carlos Reis de Souza
Diretor, editor e jornalista Revista Empresas do Vale – Negócios & Turismo
Perfil: Nome de batismo, Elke Giorgierena Grunnupp Evremides, nome artístico: Elke Maravilha, natural: Leningrado (atual São Petersburgo) – Rússia, naturalizada alemã. Nascida no dia 22/02/1945, profissão: Manequim, modelo e atriz.
Elke Giorgierena Grunnupp Evremides, nascida no dia 22/02/1945 em Leningrado (atual São Petersburgo) – Rússia, naturalizada alemã, filha de pai russo e mãe alemã. É manequim, modelo e atriz. Como a família era perseguida por Stalin, resolveram então imigrar para o Brasil. Elke chegou a terras brasileiras aos seis anos de idade, indo morar na cidade de Itabira (MG), em seguida em Jaguaraçu (MG). Naturalizou-se brasileira, mas perdeu a cidadania após se manifestar contra a ditadura militar, tornando-se apátrida. Anos depois, solicitou a cidadania alemã, a única que possui hoje em dia. Com o passar dos anos, não teve dificuldades em traçar a sua vida profissional, aos 24 anos iniciou a carreira como modelo e manequim com Guilherme Guimarães (foi considerado o maior costureiro de alta costura do Brasil e atualmente é um dos estilistas mais requisitados) e nos desfiles passou a ser amiga da estilista brasileira Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel. Elke teve a oportunidade de trabalhar para grandes estilistas, na época foi considerada como inovadora nas passarelas. Além destas qualidades, é professora, tradutora e intérprete de línguas estrangeiras, fala nove idiomas (russo, português, alemão, italiano, espanhol, francês, inglês, grego e latim). Trabalhou como, bancária, secretária trilíngue e bibliotecária. Foi a mais jovem professora de francês da Aliança Francesa e de inglês na União Cultural Brasil – Estados Unidos. Na minissérie “Memórias de um Gigolô”, sua participação como dona de um bordel foi tão grande, que em seguida foi convidada a ser madrinha da Associação das Prostitutas do Rio de Janeiro. No ano de 1972 começou a trabalhar com o velho guerreiro (Chacrinha) como jurada de calouros e depois com Silvio santos. Nos programas sempre usava perucas e roupas chamativas e buscava passar mensagens positivas para os expectadores.
ENTREVISTA
E.V. – Quem é Elke Maravilha?
E.M. – Eu sou muita ativa, careta, louca, gosto da vida como todos e somos seres totais. Claro que a gente, infelizmente não chegou a ponto de Alexandre o grande, onde ele assumia a totalidade até o fim, nós às vezes resvalamos um pouco, mais todos nós somos santos e demônios.
E.V. – Como foi a sua trajetória como manequim e modelo?
E.M. – Foi muito bom, porque eu consegui impor o meu estilo que era completamente diferente não só no Brasil como no mundo e no início foi complicado porque as pessoas diziam, “a maquiagem a o cabelo” criavam duvidas, então eu respondia a todos, “não é a mim que estão procurando”. As pessoas querem que a gente seja sempre menos e menos e eu gosto de mais e mais, multiplicar e somar.
E.V. – Você tem trabalhado na área artística?
E.M. – Sim, venho trabalhando muito na mídia, proporcionando muitas entrevistas quanto a novos trabalhos que vem sendo oferecido a minha pessoa é muito pouco inteligente, na realidade eu quero fazer um programa inteligente, onde eu possa ficar fixa e como jurada isso eu não quero mais. Na TV Record eu participei de uma novela interpretando uma russa, velha, louca e interessante, em São Paulo eu fiz uma grande temporada com o meu espetáculo chamado “Do Sagrado ao Profano”, onde tem a participação de três músicos e eu canto desde Heitor Villa-Lobos, compositor brasileiro, célebre por unir músicas com sons naturais, passando por Francisco José Itamar da Assumpção, que foi compositor, cantor, instrumentista, arranjador e produtor musical, até Falcão (cantor e compositor cearense). Antônio Carlos Nóbrega, (artista, músico e pesquisador da cultura popular brasileira), musicas da cultura negra, russa, grega, alemã, Argentina, textos de Drummond de Andrade (poeta e colunista), Cecília Meirelles (poetisa) e faço um pedaço do Apocalipse de São João e poemas, é um espetáculo muito legal.
E.V. – Você participa de algum projeto cultural?
E.M. – Sim, tenho viajado muito com os irmãos Beto Klener (estilista e desing) e Marcos Klener, responsáveis pelo projeto cultural e social “Gatos de Rua de Pernambuco”, onde conservam parceiras com a AACD e cooperativas em comunidades carentes. Este projeto tem o objetivo de tirar garotos da rua e ensinar arte interessante e sofisticada com acessórios, bordados, luminárias, decoração, escultura e utilitários. Há trinta e cinco anos eu sou voluntária atuante para acabar com a hanseníase no Brasil, porque é impossível o Brasil continuar a ser campeão mundial de hanseníase. Trabalho com o meu amigo Morran, viajamos o Brasil inteiro e é bom que todos saibam, o remédio vem gratuitamente do Japão, e continuamos trabalhando e pressionando os políticos para que eles exerçam com suas obrigações.
E.V. – Você volta a fazer cinema ou já descartou da sua vida?
E.M. – Continuo firme, tanto é que eu vou fazer um filme com o Arnaldo Jabor (cineasta, crítico e escritor) que leva o nome de “Suprema Felicidade”, eu estarei no papel de uma avó polonesa muito agradável e quem fará o papel de meu marido será o ator fantástico Marcos Nanini.
E.V. – O que representou o Velho Guerreiro na sua vida?
E.M. – A grande cultura brasileira, a miscelânea do nosso povo, preto, branco, índio, amarelo, e todos os seguimentos culturais. Chacrinha colocava no programa toda a brasilidade com alegria, irreverência, brilhantismo, genialidade e loucura. Chacrinha foi à última coisa brasileira que nós tivemos na televisão, o Velho Guerreiro era o retrato completo do Brasil, tinha essência, não tinha conceitos e nem preconceitos musicais, no seu programa ele colocava todos os tipos de calouros, eram eles caretas, loucos e desdentados. As musicas eram de todas as tribos, (brega, caipira, samba, rock, pop rock, bolero), e fazia aquele amálgama de brasilidade, que depois dele nunca mais teve, pois as pessoas sempre se fecham em seguimentos. O que eu fico extremamente irritada é quando vão fazer uma homenagem ao “Velho Guerreiro” só colocam gente brega, será que é só isso que viram no
Chacrinha, ele tinha o seu lado brega como eu, mais era culto, inteligente, louco, caipira, pop rock, isso é Brasil e que não tem um seguimento só, é rico culturalmente. Chacrinha foi à última coisa brasileira e temos sempre que lembrar do que ele se propôs a fazer.
E.V. – O que você poderia falar sobre os programas do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), já que você trabalhou muito tempo com o Silvio Santos?
E.M. – Os programas do SBT são comprados ou roubados dos Estados Unidos, vou só citar alguns exemplos; Ratinho, Márcia e Gugu, são cópias de programas americanos, não que os Estados Unidos não tenham nada para ensinar, nós poderíamos aprender com eles, planejamento e produção onde eles são imbatíveis, agora, sobre cultura nós damos um show.
E.V. – O que mais rendeu financeiramente na sua vida de artista, foi o cinema, a televisão ou teatro?
E.M. – Nada, eu poderia estar rica, mas não sou uma pessoa apegada ao dinheiro, e como não faço certas concessões, vivo dignamente o meu dia a dia.
E.V. – Na sua trajetória pessoal, alguns anos atrás você passou por uma situação constrangedora, foi divulgado pela imprensa (jornais e revistas) que você estava sendo despejada de seu apartamento. Naquela ocasião você foi amparada por pessoas que se diziam amigos?
E.M. – Todos nós passamos por algum momento de dificuldade, a própria natureza tem os seus tsunames, eu tive os meus percalços pessoais, mas graças a Deus eu sou muito rica, porque tenho amigos e nenhum deles fugiu, inclusive o meu marido que é bem mais novo do que eu e segurou a onda. Foi provado que tem gente nova e velha que tem bom caráter e vice versa. A minha riqueza sempre foi e sempre serão os meus amigos, isso eu tive a prova, porque nenhum se evadiu. Quando a gente está no fundo do poço, ai é que nós percebemos, quem são as pessoas que realmente são seus verdadeiros amigos, cai a ficha e vem a realidade.
E.V. – Para fechar a nossa entrevista, pergunto: você, sendo uma pessoa estrangeira, como foi a sua experiência com a ditadura?
E.M. – Na época do regime militar (ditadura) eu passei por uma experiência não muito agradável, um certo dia, chegando no aeroporto, tinham diversos cartazes com os dizeres “Procura-se Terroristas” e dentre as fotos estava a do filho da Zuzu Angel, foi quando me deu um minuto de loucura e fui rasgando todos os cartazes, imediatamente fui presa por violação a Lei de Segurança Nacional e acabei perdendo a cidadania brasileira, hoje sou apátrida e com esses terroristas distribuídos pelo mundo, se eu tivesse que viajar para o exterior não conseguiria sair do Brasil.
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