ENTREVISTA COM O CANTOR E COMPOSITOR RENATO TEIXEIRA
Empresas do Vale julho 16, 2019 Nenhum comentário
ENTREVISTA COM O CANTOR E COMPOSITOR RENATO TEIXEIRA
Matéria realizada na edição 45, periodicidade: abril / maio / 2012
Pelo: jornalista José Carlos Reis de Souza
Diretor, editor e jornalista da Revista Empresas do Vale – Negócios & Turismo.
Estivemos com o Cantor e compositor Renato Teixeira, nascido no dia 20/05/1945 na cidade de Santos (SP) e conversamos sobre a sua carreira.
ENTREVISTA:
E.V. – Nossa primeira pergunta: você nasceu em Santos, conviveu em Ubatuba e morou em Taubaté, como você diferencia as três cidades?
R.T. – Nasci em santos, mas foi muito breve, com um ano de idade minha família foi morar em Porecatu, norte do Paraná. Depois meus pais voltaram para Ubatuba, porque as minhas origens familiares são todas Ubatubanas por parte de pai e mãe. Aos 11 anos fomos morar em Taubaté, meu pai ganhou uma promoção, foi trabalhar no SVP – Serviço Vale do Paraíba. Ele tinha muitos amigos em Taubaté. Quando Taubaté entrou em minha vida foi bem naquele momento em que você está tomando noção das coisas e descobrindo o mundo. Eu sempre fui muito curioso, gostava de saber dos acontecimentos e investigar. Em Taubaté encontrei a arte e a cultura popular, aqueles figureiros do morro da Imaculada, as Folias de Reis, e fui me interessando. Às vezes saia com os meus amigos para roubar santinhos de madeira nas encruzilhadas, tudo isso, aguçou muito a minha curiosidade pela cultura popular. E, realmente, o Vale do Paraíba num todo é muito rico e, esse momento foi muito importante, porque foi no Vale que eu me identifiquei como ser humano, um cara da terra.
E.V. – Antes de ser cantor e compositor, você teve pretensões para outra profissão?
R.T – Se considerar que eu sou de uma família de muitos músicos e nasci no meio da música, porém, a música sempre teve uma tendência muito forte. Eu curtia muito os meus amigos em Taubaté: era amigo do Romeu Simi, um grande arquiteto e que tem uma visão cultural bastante interessante, e convivi bastante aquele momento da arquitetura. Mas a música e arquitetura são muito parecidas, a música é uma forma de arquitetura. Eu sempre gostei muito de arquitetura e, uma vez eu falei isso numa entrevista e as pessoas acham que houve uma opção nesse sentido, mas não houve. O que existiu foi um interesse grande por arquitetura, ao ponto em que, quando eu cheguei a São Paulo eu frequentava a FAU para assistir aulas. Eu parei de estudar na 2ª série do ginásio por total não identificação com os interesses que a escola me ensinava e as coisas que eu estava querendo aprender e, lógico, foi o grande equivoco de minha parte deveria ter levado mais a sério.
E.V. – Você participou do Festival da Record de 1967 com a música “Dadá Maria” defendida por Gal Costa, ainda no começo da carreira. Esta música foi o início oficial de sua carreira?
R.T. – Sem duvida, naquele momento os festivais tinham grande prestígio, você ser um dos classificados era um grande feito. Eu estava em Taubaté na minha, tentando me ajeitar por lá, de repente surge esta oportunidade que me veio através do Renato Consorte, eu sou muito amigo do Luiz Consorte, filho dele, que fez esta aproximação, ele levou uma fita minha para o Walter Silva, e foi assim que rapidamente, em poucos meses eu sai dessa situação taubateana para um compositor classificado do Festival da Record. Realmente foi um incentivo muito grande, eu dei muita sorte, porque eu cheguei num momento em que estava surgindo uma geração que até hoje está ai, de: Chico Buarque, Caetano, Gilberto Gil, Gal Costa. Eu convivi com eles na fase da pré-celebridade, antes de serem famosos, havia debates, um incomodo muito forte da ditadura militar, havia uma situação política, confrontos e uma vontade imensa de criar coisas novas, porque naquele momento instituía a chegada da nova era digital. O som começou a mudar, os estúdios cresceram, enfim, começou a surgir um mercado de música no Brasil muito interessante, o mundo começou a olhar um pouco mais para a gente. Por fim, comecei na melhor parte do jogo e, até hoje me serve muito. Mas na verdade, a minha identidade musical começa a surgir a partir da década de 70 quando eu compreendo a música caipira, aquela original do Tonico e Tinoco, as que o Teodoro Israel me mostrava na discoteca da Rádio Difusora de Taubaté. Aquela geração maravilhosa e genial estava cumprindo o seu ciclo, porque tudo esgota e, eu senti que era preciso ser feito uma releitura e, como taubateano eu tinha condições disso, eu não era caipira da roça, mas era um caipira de Taubaté, já era uma peque evolução. Então parti para repaginar a música da cultura caipira. Se você considerar que antes de 1970 ela estava perdendo muita força e a partir de 1970 quando eu comecei com o meu trabalho mais acadêmico dentro da música popular que têm muito mais influencia de Monteiro Lobato do que outras coisas. Enfim, e o Sergio Reis começando a sua carreira dentro desta linha chamada sertaneja, o Léo Canhoto e Robertinho tiraram o chapéu de palha e o lenço do pescoço, subiram em uma moto e começaram a botar guitarra elétrica. De certa forma nós três naquele momento, meio que intuitivamente, a gente estava criando condições para que a música do interior chegasse aonde ela chegou hoje, a dominar 70% do mercado da música no Brasil. Então, a geração que vem em seguida, que é Chitãozinho e Xororó, Zezé Di Camargo, para nós e eles, éramos um pouco concorrentes, cada um puxava a brasa para a sua sardinha, eu sai perdendo, porque a minha proposta sempre foi mais acadêmica e, num país que têm uma educação tão precária como a nossa, o pessoal que têm um apelo mais popular consegue sair na frente. Mas as minhas músicas são perenes, elas duram mais, então elas vão ficando, essa é uma das características da música da cultura caipira, o que ela tem de mais forte. Eu acho que o mercado de música no Brasil, que sempre girou no litoral até pelo aspecto, a Bossa Nova é uma coisa totalmente litorânea, a música baiana tem aquela coisa do Dorival Caymmi, do mar, sempre foi muito litorânea. Agora o eixo gira também no interior, eu acho que aquele momento das informações que eu trouxe de Taubaté e, poder cantar o jeito que a gente vive, os nossos valores. Até para criar os meus filhos, eu sou meio taubateano, essa coisa enraizou muito em mim, e tenho um jeito de pensar que me identifica com a região e, me sinto com muito orgulho um cara daqui, o cara que canta as coisas daqui, não o cara daqui que cantas as coisas daqui. Eu nunca tive um olhar vazio puramente interesseiro sobre isso, é minha alma, meu espirito que se identifica com isso. Então isso para mim tem sido o alimento da minha música.
E.V. – Por outro lado a gente percebe que a música raiz deu uma recuada, não por sua causa e, sim por esta avalanche de duplas sertanejas. Você acha que consegue recuperar esse trabalho fortíssimo de raiz?
R.T. – Nunca foi a minha proposta promover música de raiz, que são as músicas de Folia de Reis que ainda rodam lá no bairro da Imaculada e essas festas populares nos bairros. O que acontece é que a gente precisa andar e ir mais a frente e identificar isso sobre outro ponto de vista, a música que a gente faz, eu, Almir Sater, Rolando Boldrin, Zezé Di Camargo, nós cantamos as coisas que o povo vivencia que é uma fonte de informação muito rica, nenhuma imaginação consegue ser superior ao que o povo cria. Não é conveniente você se amarrar em formulas antigas, voltar a tocar como os antigos eles fizeram e, nós não vamos fazer melhor que eles pode ter certeza disso eles vão ser sempre os melhores, ninguém vai fazer melhor do que Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, João Pacífico e Vieira e Vieirinha eles são imbatíveis. Imagina se eu teria a pretensão de fazer alguma coisa, eu não tenho vivencia, não vivi no tempo deles. Então essas coisas ficaram gloriosamente como holofotes para iluminar os caminhos das novas gerações, é quase como uma lanterna, eles passaram a lanterna para a minha geração e do Sérgio Reis e, agora estamos passando essa lanterna para o pessoal novo que está vindo aí. É da música do interior que vão surgir os novos: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil entre outros, dando a sequencia da história. Por enquanto a gente tem que se contentar se fala muito em duplas sertanejas, muita música banal e parecida, mas se você olhar para traz vai ver que a música canta e decanta, no frigir dos ovos, você só vê Pixinguinha, Noel Rosa, Dorival Caymmi, os bons ficam.
E.V. – Para finalizar, “Romaria” é a música que marcou a sua carreira?
R.T. – Eu tenho algumas alegrias e, “Romaria” sem duvida é uma delas, principalmente porque me deu a maior satisfação que um compositor pode ter na vida, que é ser interpretada por uma das maiores cantoras da história da música brasileira, Elis Regina. Só a gente mesmo é que pode falar que sensação é essa, de você fazer uma música e, de repente vem uma cantora como ela e canta a sua música, nada se compara a isso. Mas a música “Romaria” se transformou numa referência, em um divisor de águas e, a partir dali é que essa nova realidade musical começa a se firmar de uma forma mais acadêmica, assim pode-se dizer. Então, continuo a dizer, eu tenho muitas alegrias e, a música “Tocando em frente”, uma canção minha e do Almir Sater e, saber que essa canção ajuda as pessoas.
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