Entrevista com Percival de Souza: Novembro/2012
Empresas do Vale dezembro 3, 2018 Nenhum comentário
Entrevista com Percival de Souza: Novembro/2012
Por: José Carlos Reis de Souza
Diretor, editor e jornalista da Revista Empresas do Vale – Negócios & Turismo
NOME: Percival de Souza
NASC: 10/03/1943
NATURAL: Braúna – SP
PROFISSÃO: Jornalista, escritor e criminólogo
PERFÍL
Na adolescência, trabalhou na redação da Folha de São Paulo aonde tomou aspiração pelo jornalismo. Ingressou na Revista Quatro Rodas pelas mãos do repórter José Hamilton Ribeiro. Atuou na revista Auto Esporte e nos jornais: “A Gazeta” e “A Nação”. Colaborou com os alternativos: “Movimento e Opinião” e revistas; “Realidade”; “Veja”; “Isto É” e “Época”. Aos 22 anos, foi para o jornal “O Estado de São Paulo” e participou da fundação do “Jornal da Tarde”. Começou também a trabalhar na editoria de Polícia, o que marcaria para sempre a sua carreira jornalística. Na década de 1970, época da ditadura em que o Jornal da Tarde estava sob a censura instalada dentro da redação, cobriu as atividades do Esquadrão da Morte, a mas temida a organização marginal do regime militar. Foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional e, mais tarde, escreveu dois livros sobre o período da repressão: Autópsia do Medo, (biografia do delegado Sérgio Paranhos Fleury), e Eu, Cabo Anselmo, (uma entrevista com o mais conhecido agente duplo do regime militar). Com o livro, Narcoditadura, (sobre a morte do jornalista Tim Lopes – 1950-2002). No total tem 18 livros publicados. Conquistou quatro prêmios: “Esso” de jornalismo (o mais importante da imprensa brasileira) e um prêmio “Wladimir Herzog” de Anistia e Direitos Humanos, na categoria Livro-Reportagem. É comentarista da Rede Record de Televisão e consultor da Comissão de Segurança Pública da OAB/SP.
ENTREVISTA
E.V. – Durante 40 anos vivendo a experiência jornalística policial, como você ressalta a segurança do Estado de São Paulo?
Percival – Eu sou por contingência profissional, corresponder a expectativa de quem me ouve, assiste ou lê, de ver a Segurança Pública da maneira mais objetiva e, se necessária crítica. Uma coisa, é a previsão da nossa Carta Magna, a nossa constituição. A segurança é um direito do cidadão e o dever do Estado. Esse parâmetro constitucional, sou obrigado profissionalmente a cobrar constantemente. Quer dizer: considero-me uma pessoa não teleguiada por instituição alguma, não gosto de ficar na mão de ninguém, e sim, ter o meu juízo próprio. Para desempenhar o que eu faço na televisão, procurei me especializar e profissionalizar ao máximo: estudei direito, criminologia e direito penal em particular. É algo em que me habilita explicar os mais variados fatos, nas mais variada situações. É nessa expectativa que desenvolvo o meu trabalho.
E.V. – Em sua opinião, quais as medidas que poderiam melhorar a segurança pública?
Percival – Melhorar a segurança pública, evidentemente é parte das obrigações do Estado e parte das instituições que se fortaleceram em termos privadas. Porque a rigor, a Segurança Privada hoje, é numericamente em termos de efetivos, superior a das organizações oficiais. Isso significa claramente, que um Estado precisa ter a Policia da União (federal), Polícia Ostensiva (militar), Polícia Judiciária (civil) e, mesmo assim, tem que ter as guardas municipais. Só em São Paulo, existem 300 Guardas Municipais, isso é necessário e, ao mesmo tempo, por uma série de razões, entre elas uma criminalidade galopante e, às vezes lamentavelmente ela é triunfante. Então as pessoas precisam se conscientizar e aprender, que necessitam adotar cuidados mínimos para sobreviver dentro de um cenário perigoso. Evitar certas práticas e certas rotinas, não se expor gratuitamente. Diria que infelizmente, uma das cobranças para nós sociedade nesse começo do século XXI é a proibição de você ser ingênuo. Nos dias atuais, se você for ingênuo na sociedade e andar na rua pensando que só tem anjinhos, querubins e arcanjos, você está frito. O cidadão tem que estar prevenindo, tomar cuidado em certos lugares, enfim, a segurança hoje, exige uma conscientização de todos neste sentido.
- V. – Dando seguimento a essa mesma resposta, o grande gargalo da Segurança Pública são as penitenciárias lotadas, mal cuidadas, sem o mínimo de higiene, entrada de drogas e celulares. Com todas essas informações, existe uma solução para o futuro?
Percival – Atualmente, este problema é um contraste e, um tema que de um modo geral não agrada à população. Nesses aspectos mencionados, se você teme a criminalidade por ser violenta; implacável; cruel e brutal, você como membro da sociedade, tem no mínimo certa resistência em imaginar que esse bandido que destruiu a sua família, o seu negócio e a sua atividade, seja tratado a pão de ló por um estabelecimento penal. Você não vai se preocupar com isso, tanto é, conheço umas dezenas de pessoas que pensavam assim, mais depois que foram vitimas de um ataque, mudaram suas opiniões por completo. Então, você precisa saber conciliar as coisas. O que eu posso lhe dizer é o seguinte; São Paulo tem exatamente cerca de 170 mil prisioneiros em todo o Estado de São Paulo, distribuídos em 158 presídios. Posso dizer como interpreto na criminologia um laboratório de comportamento humano: um laboratório que é completamente desprezado pela sociedade. Você tem uma série de revelações dentro da cadeia como: a faixa etária que é predominante entre 18 a 23 anos, o criminoso de modo geral é muito jovem; existe o crime contra o patrimônio (roubo e furto), que está em primeiro lugar. Além de uma série de detalhes que são ignorados pela sociedade em termos de saber prevenir-se e adotar medidas eficazes para que aquele prisioneiro se recupere, o que não acontece na sociedade hoje. Nossos índices de reincidência já atingiram o patamar de 70%. A rigor de modo geral, a prisão não cumpre o seu papel, ela é inútil, porque os criminosos são reincidentes, sempre os mesmos: entrou, cumpriu a sua pena, saiu e voltou ao presídio. Esse é um grande desafio para a sociedade.
- V. – Para finalizar, o PCC foi criado na penitenciária para dar cobertura aos grandes chefões do tráfico. Esse é outro grande problema para o Estado, o que você poderia dizer?
Percival – Uma das funções do Estado naqueles parâmetros constitucionais ao qual nós nos referimos, quando alguém é segregado da sociedade, isto é, precisa ser tirado da sociedade e colocado no estabelecimento penal, você presume que esse alguém seja isolado de qualquer contato com a sociedade. Conheci diversos estabelecimentos penais assim: não podia ler jornais; assistir televisão; ouvir rádio e visitas selecionadas no máximo uma vez por semana. Hoje, o Estado não consegue se quer impedir que esse preso segregado comunique-se com o mundo exterior. Então, o PCC ao qual você se referiu, tem mais celulares do que eu e você, nós temos um e eles têm vários, tem um mistério que é o bloqueador dos presídios, que em tese ele está instalado e não consegue se comunicar. Em todos os presídios, inclusive os chamados de segurança máxima, eles se comunicam, como um mistério. Boa pergunta para as operadoras que não operam. A rigor, alguns estabelecimentos penais, se transformaram em escritórios do crime, exemplo: o juiz Antônio Machado Dias da área de Presidente Prudente, aonde estão concentrados os estabelecimentos penais de segurança máxima, foi fuzilado quando saia do fórum. Ai você pergunta: como pode ter acontecido isso, mas aconteceu. Alguém do PCC que não o conhecia foi ao fórum de terno, gravata e pasta preta parecendo um advogado, conheceu e depois metralhou o juiz Antônio Machado Dias. Dez minutos depois a policia em uma monitoração telefônica ouviu uma conversa gravada “Machadinho já era”, traduzido, o juiz Antônio Machado Dias acaba de ser metralhado, uma comemoração. Isso é muito grave quando você tem presídios transformados em escritórios do crime, que hoje representa um grande desafio, nós estamos falando em final de setembro de 2012. Hoje o PCC é uma realidade concreta, nós temos tidos ataques violentos a policiais, particularmente aos militares com execuções sumárias. As autoridades estão com dificuldades em enfrentar esta situação. Nós tivemos casos que comprovam um controle absoluto em relação a assaltos diferenciados, a contrabando de armas e ao tráfico de drogas, isso é PCC – Primeiro Comando da Capital. Não é possível você viver em uma sociedade em que bandido se nivele e desafie a autoridade. O Estado, antigamente chamado de paralelo, hoje estado real, que afronta, domina, arrogante, atrevido, violento, bárbaro e sanguinário, é um desafio para as autoridades de hoje. Se eu pudesse fazer uma sinopse da criminalidade, eu diria a você como eu enxergo esse mundo. Procuro olhar pelo buraco da fechadura, meio escondido, onde você vê o que está camuflado do outro lado. Esse seria o meu olhar através da fechadura: abrangente, critico e revelando para a sociedade tudo o que ela tem direito de saber.
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